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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Psicologia- Cultura um conceito antropológico ROQUE de BARROS LARAIA


Cultura: um conceito antropológico
No livro Cultura: um conceito antropológico, Roque de Barros Laraia abrange algumas das teses antropológicas que visavam responder determinadas questões relacionadas à cultura.

Inicialmente, os estudos apontavam as características genéticas como grandes influenciadoras da personalidade humana. E, mostrando-se logo no começo da obra, como um “determinista cultural”, o autor fala que independente dos genes, o que prevalece é a cultura. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evolução do homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade.” Ele diz que até a divisão do trabalho por sexo é um aspecto meramente cultural.

No decorrer da obra, Roque cita o Determinismo Geográfico, o qual afirmava que as diferenças no ambiente físico afetavam a diversidade cultural. Entretanto, em seguida o escritor comenta que na década de 20, há uma quebra desse conceito. “E possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico.”

A cultura é seletiva, explora “determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para o qual as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura”. Laraia ratifica, baseado nos estudos antropológicos modernos, que “as diferenças existentes entre os homens não podem ser explicadas em termos das limitações que lhes são imposta pelo seu aparato biológico ou pelo seu meio ambiente”.

Edward Tylor criou o termo culture, advindo da junção da palavra alemã Kultur, que estava relacionado aos aspectos espirituais, e do vocábulo francês civilization, que seriam os feitos materiais. Dessa forma, cultura era toda a possibilidade de realização humana.

O autor destacou estudos realizados antes do surgimento do termo culture. Foi o caso de John Locke. Em 1690, escreveu Ensaio acerca do desenvolvimento e demonstrou que a mente do homem seria uma “caixa vazia”, com a possibilidade de adquirir conhecimento. Era através dessa aquisição, que ia sendo preenchida.

Influenciado pela teoria evolucionista de Darwin, Tylor acreditava que a humanidade estaria dividida em estágios da civilização. A européia seria a mais avançada. O autor já demonstrava com isso uma característica até hoje comum: o etnocentrismo. A cultura se desenvolveria de maneira uniforme, linear. Em um dos capítulos do livro, Roque de Barros Laraia fala exatamente o oposto: “a cultura é dinâmica”.

Stocking critica Tylor ao dizer que ele esqueceu do relativismo cultural dos múltiplos caminhos da cultura.

Contrário ao evolucionismo, apareceria o alemão Franz Boas. Ele atribuiu a Antropologia Moderna:


a) a reconstrução da história de povos de regiões particulares;
b) a comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

Quanto à cultura, teria surgido a partir do aparecimento da primeira regra: a proibição do incesto. Ela seria abstrata e, contraditoriamente, por essa razão, era impossível determinar “onde, como e por quê” surgiu.

O autor tenta deixar claro que apesar do homem ser um animal, a cultura afasta-o definitivamente desse aspecto. “O homem ao adquiri-la perdeu a propriedade animal. Tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura”.

A cultura funciona como códigos binários. Existiriam culturas diferentes porque elas organizariam esses “códigos” de maneiras distintas. Ela é possuidora de lógica própria, então é inadequado se dizer o que é “certo” e “errado”. Ao se fazer isso, o julgamento corre o risco de ser etnocêntrico.

A cultura influencia até mesmo no plano biológico e a tendência é o crescimento dessa influência. Os indivíduos não participam de todos os aspectos dela, e nem o fazem igualmente. “Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. Isto porque, como afirmou Marion Levy Jr., ‘nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade não são todos os habitantes igualmente bem socializados, e ninguém é perfeitamente socializado. Um indivíduo não pode ser familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade; pelo contrário, ele pode permanecer completamente ignorante a respeito de alguns aspectos. Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo. Além disto este conhecimento mínimo pode ser partilhado por todos os componentes da sociedade de forma a permitir a convivência dos mesmos”.

A análise de outras culturas, se não a nossa, é complicada, já que quando não se está inserido em uma determinada cultura, pode-se ser considerado “cego culturalmente”.

Conclui-se que mesmo o autor sendo parcial, e exaltando a cultura em detrimento da natureza, ele não “fecha” nenhum pensamento. Coloca pontos diversos, teorias distintas, porém destaca sempre a cultura e quer confirmar que tudo é determinado por ela. Aí está a grande falha de Laraia: a cultura é limitada.

Um comentário:

PEDAGOGIA LÚDICA DE QUEBKI disse...

O conceito de cultura é utilizado em dois registros bem diferentes:
o do senso comum e o da ciência antropológica.
No senso comum, podemos notar que cultura é utilizada para distinguir numa sociedade aqueles que receberam uma educação mais refi nada e, portanto, podemos discriminar pessoas ao
dizer que “não têm cultura”. Para a Antropologia, cultura é um conceito que define nossa imensa capacidade de criar diferentes
soluções para a vida humana.