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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TEXTO e TEXTUALIDADE

TEXTO e TEXTUALIDADE
Prof: JOSÉ RAIMUNDO CARVALHO (IFPA)
O que é TEXTO?
Quando fala-se de texto distingue-se o uso da linguagem verbal (poema, romance,...), e não verbal/visual e imagético (pintura, desenho...) que tem significado (conjunto das partes que ligam umas a outras) e intenção.
Unidade da linguagem em uso: informativa, emotiva, apelativa, fática, metalinguística, critica e outras, passiveis de análise, interpretação e compreensão;
Texto não é um aglomerado de frases: É preciso haver uma lógica garantida por dois mecanismos pequenos, que são a pedra no sapato de muita gente (coesão e coerência);
A Ocorrência linguística falada ou escrita de qualquer extensão, dotada de uma unidade sócio comunicativa, semântica e formal;
Unidade Sócio Educativa
Existe uma série de fatores pragmáticos que contribuem para a construção e reconhecimento do texto, ou seja, para sua produção e recepção.
I- As intenções do produtor/redator;
II- O jogo de imagens mentais que cada um dos interlocutores faz de si, do outro, e do outro com relação a si mesmo e ao tema do discurso/texto;
III- O espaço da perceptividade visual da comunicação;
IV- O contexto sociocultural em que se insere o discurso, delimitando os conhecimentos compartilhados pelos interlocutores (tom de voz, postura ...);
Unidade Semântica
O texto pode ser percebido pelo receptor como um todo significativo: A coerência – responsável pelo sentido do texto.
O texto é coerente, quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do receptor/leitor que precisa deter os conhecimentos necessários a sua interpretação.
A coerência do texto deriva de sua lógica interna e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso/texto.
Grande parte destes conhecimentos necessários não vem explícita, mas fica dependente da capacidade de pressuposição e inferência do receptor/leitor.
Unidade Formal e Material
Elementos linguísticos devem se mostrar reconhecivelmente integrados, de modo a permitir que ele seja percebido como um todo coeso.
O texto será bem compreendido quando avaliado sob três aspectos:
I - pragmático: atuação informacional e comunicativa;
II - semântico-conceitual: coerência;
III - formal: coesão.
Contexto: encadeamento de idéias
Em um texto, é preciso que as partes se complementem, criando uma idéia central, algo mais abrangente: isso é o contexto. De modo geral, contexto é uma unidade linguística maior dentro da qual insere-se uma unidade linguística menor.
Exemplo:
       Um belo dia seu namorado comenta com você que ouviu alguém dizer que você disse que ele era um baixo. Você fica sem entender, faz um esforço de memória, e aí se lembra: sim, você disse mesmo.
       Mas foi assim: estavam todos na sala falando sobre música e alguém comentou sobre a existência de vários tipos de vozes: barítono, soprano, tenor, baixo... . Você, lembrando-se de como a voz do seu amor é grave, comentou, então, que ele deveria ser um baixo.
      “Baixo” no contexto da música significa grave. Num contexto moral, assume um tom pra lá de pejorativo. E, ainda, num contexto métrico, significa que ele é pequeno. E, só por causa de uma descontextualização.
      Contexto é uma coisa grande onde cabe uma coisa pequena. A palavra no contexto da frase, a frase no contexto do parágrafo, o parágrafo no contexto do texto, e o texto no...

TEXTUALIDADE
É o conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto e não apenas amontoado de palavras e frases.
Fatores semânticos: coerência e coesão
Fatores pragmáticos: intencionalidade, aceitabilidade, situcionalidade,  informatividade e intertextualidade;
Coerência - A coerência resulta da configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes à superfície textual. É considerada o fator fundamental da textualidade, porque é responsável pelo sentido do texto. Envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na medida em que depende do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores.
Exemplo:
                1.   Quem tem uma foto importada de 1000 cc, que custa US$ 20.000,                  não vai expô-la ao trânsito de uma cidade como São Paulo.
                2.    Holyfield venceu a luta, apesar de ser o mais forte dos lutadores.
                OBS: Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna  e o conhecimento de mundo de quem processa e concebe o discurso.
Coesão
A coesão é a manifestação linguística da coerência: é responsável pela unidade formal do texto, constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.
A Coesão de um texto, isto é, entre os vários enunciados, não é fruto do acaso, mas das relações de sentido que existem entre eles, em que as palavras assumem a função de conectivos ou elementos de coesão.
as preposições: a, de,para, com, por, etc.;
as conjunções: que, para que, quando,embora, mas, e, ou, etc.;
os pronomes: ela,ele, seu,sua, este, esse, aquele, que, o qual, etc.;
os advérbios: aqui, ai, lá, assim, etc.;


Exemplo de coesão num período composto.
               ¨Se as indústrias são poluentes, devem abandonar a cidade, para que as boas condições de vida sejam preservadas¨.
Platão e fiorin(1991)
Obs:
  1. A conjunção se na primeira oração, estabelece as condições que vai determinar a obrigação de as indústrias deixarem a cidade;
  2. A preposição a na oração principal indica o que deve ser abandonado;
  3. A conjunção para que indica a finalidade que se pretende atingir com a saída das indústrias;
A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a inter-relação semântica entre os elementos do discurso (conectividade textual).
                Ao lado da coerência, a coesão é outro requisito para que sua redação seja clara, eficiente.
     Exemplo:
O cão e a lebre
Um cão de caça espantou uma lebre para fora de sua toca, mas depois de longa perseguição, ele parou a caçada. Um pastor de cabras vendo-o parar, ridicularizou-o dizendo:
    “Aquele” pequeno animal é melhor corredor que você”.
                O cão de caça respondeu:
                “Você não vê a diferença entre nós: eu estava correndo apenas por um jantar, mas ela por sua vida.”
                Moral: ¨O motivo pelo qual realizamos uma tarefa é que vai determinar sua qualidade final¨.

Coerência
Observe o texto que segue:
Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho. que mal podia carregar a cesta em que
estavam os pacotinhos de amendoim. Um dia. na esquina em que ficava. um motorista. que vinha em alta velocidade, perdeu a direção. O carro capotou e ficou de rodas para o ar. O menino não pensou duas vezes. Correu para o carro e tirou de lá o motorista. que era um homem corpulento. Carregou-o até a calçada. parou um carro e levou o homem para o hospital. Assim, salvou-lhe a vida.
FATORES PRAGMÁTICOS

       Tipos de fala, contexto de situação, intenção comunicativa, características e crenças do produtor e receptor.
       Intencionalidade – fator pragmático -  Redator/produtor/emissor.
       Satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa: informar, impressionar, alarmar, convencer, pedir, ofender, etc.

                 Aceitabilidade -  fator pragmático - receptor/recebedor/leitor (a quem? Para quem?)Conjunto de ocorrências de um texto coerente, capaz de levar o leitor a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor. A aceitabilidade depende da autenticidade – qualidade, veracidade.
                Informatividade – (fator pragmático – Quantidade de informação – Suficientes para que seja compreendido com o sentido que o redator pretende. Não é possível nem desejável que o texto explicite todas as informações necessárias; é preciso que deixe inequívocos os dados para o receptor compreender a mensagem. O nível de informação ideal é o mediano, no qual se alternam ocorrências de processamento imediato, que falem do conhecido, mas que trazem informação. Discurso menos previsível – mais informativo recepção mais trabalhosa, mais envolvente). Discurso mais previsível – menos informativo ( tendência a rejeição).

Situacionalidade – fator pragmático – Diz respeito aos elementos responsáveis pela pertinência  e RELEVÂNCIA  - importância da informação – do texto quanto ao contexto em que ocorre. É a adequação do texto à situação sociocomunicativa. O contexto pode, realmente, definir o sentido do discurso e, normalmente, orienta tanto a produção quanto a recepção.
Intertextualidade – fator pragmático – Concerne aos fatores que fazem a utilização de um texto dependente de outro(s) texto(s). Inúmeros textos só fazem sentido quando entendidos  em relação a outros textos que  funcionam como contexto, pois um discurso constrói-se através de um já-dito em relação a outros textos, que funcionam como seu contexto.
Inferências: Idéia não exposta, mas subtendida. Conexões que o leitor faz (contexto), tentando alcançar uma interpretação do que lê ou ouve, estabelecendo uma relação não explícita no texto.
Focalização: É a maneira como cada leitor vê o  texto.
Ex.: Um médico, um advogado, um engenheiro.... lendo um romance. (cada um terá uma visão).
Conhecimento de mundo: o texto fala sobre o quê?
Conhecimento partilhado: necessário para a compreensão do  texto - emissor e receptor devem ter um conhecimento de  mundo com certo grau de similaridade, constituindo o conhecimento compartilhado.
Conhecimento lingüístico: é o conhecimento da gramática em si e sua aplicação dentro do texto para que possa  ser estabelecida a coerência.
Ex.: Uso de artigos, ordem das palavras, conjunções, tempos verbais....
Contextualização: Informações sobre localização, data e autor  (texto).
Num texto literário, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica  o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural. Os dados a respeito dos textos literários, mitológicos, históricos são necessários, muitas vezes, para compreensão global de um texto.”
       Basicamente, sempre que um texto faz alusão, cita ou dialoga com outro, temos uma relação intertextual.
A intertextualidade não acontece, necessariamente, apenas entre textos escritos. Pode ocorrer entre linguagens diferentes também. Um bom exemplo é a polêmica em torno das comparações entre O Código da Vinci, o filme e o livro. São dois tipos de linguagem diferentes, mas tratando de um mesmo assunto, e que obviamente guardam relação de sentido um com o outro.
                Conforme, as sábias palavras de Platão e Fiorin:
“Com muita frequência um texto retoma passagens de outro”. Quando um texto de caráter científico cita outros textos, isto é feito de maneira explícita. O texto citado vem entre aspas e em nota indica-se o autor e o livro donde se extraiu a citação.

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